Do legado familiar à inovação: A jornada da angolana Nuria Cruz no agro

Nesta entrevista inspiradora, conhecemos a história de Nuria Cruz, empresária do agronegócio angolano, que vem se destacando por sua dedicação e inovação no setor. Filha de um visionário que nunca desistiu do sonho de retomar o legado familiar na agricultura, Nuria compartilha sua trajetória, os desafios enfrentados pelas mulheres no agro e as oportunidades que se abrem para quem deseja empreender nesse segmento. Além disso, ela fala sobre o impacto das tecnologias brasileiras na modernização da produção em Angola e reforça a importância da colaboração internacional para o crescimento do setor.

Poderia compartilhar um pouco sobre sua trajetória no agronegócio e como se tornou uma referência na área em Angola?
A minha trajetória no agronegócio começou com o sonho do meu pai, inspirado na história do meu bisavô, que foi produtor de café na era colonial em Angola. O meu pai cresceu numa fazenda de café, mas, devido à guerra civil, a sua vida tomou outro rumo. No entanto, ele nunca perdeu o desejo de retomar o legado familiar, nem a paixão pela terra e pelo enorme potencial agrícola do nosso país. Hoje, faço parte de um projeto familiar iniciado em 2016. Ainda temos um longo caminho a percorrer, mas, a cada dia, me sinto mais apaixonada pelo agronegócio e mais comprometida em aprimorar a produção e a qualidade do nosso produto. Busco constantemente novos conhecimentos para melhorar tanto a gestão quanto a eficiência do nosso trabalho, sempre com o objetivo de contribuir para o crescimento do setor agrícola em Angola.

Quais são os principais desafios que as mulheres angolanas enfrentam atualmente no agronegócio?
Acredito que, embora seja cultural as mulheres angolanas trabalharem no campo como cultivadoras, elas ainda enfrentam desafios significativos no agronegócio. O acesso limitado a crédito, terra e tecnologias dificulta o crescimento no setor. Além disso, a falta de capacitação técnica e de oportunidades para ocupar cargos de liderança impede muitas de avançarem profissionalmente. No entanto, vejo com muito orgulho e entusiasmo a crescente presença de mulheres assumindo papéis de destaque no agronegócio. Espero que, cada vez mais, possamos superar essas barreiras e fortalecer a participação feminina no desenvolvimento agrícola de Angola.

Na sua opinião, quais são as oportunidades mais promissoras para as mulheres no setor agropecuário angolano?
Acredito que as oportunidades mais promissoras estão na agricultura familiar, na agroindústria e na comercialização de produtos locais.

Como você percebe a evolução do papel da mulher no agronegócio em Angola nos últimos anos?
Embora existam programas governamentais de capacitação para o empoderamento das mulheres no agronegócio sustentável, ainda há desafios a serem superados para alcançar a igualdade de gênero e aumentar a presença feminina na liderança do setor.

Você poderia nos falar sobre o intercâmbio de tecnologia entre Angola e o Brasil? Quais tecnologias brasileiras você considera mais relevantes para o agronegócio angolano?
O intercâmbio de tecnologia é importante e tem sido uma mais-valia para o nosso projeto. O Brasil é uma referência global em agricultura, e as suas técnicas, como plantio direto, irrigação eficiente e o método de manejo integrado de pragas, têm contribuído bastante para a modernização e desenvolvimento da Fazenda Vissolela.

Que iniciativas existem em Angola para apoiar mulheres empreendedoras no agronegócio? Como você tem contribuído para essas iniciativas?
Existem diversas iniciativas voltadas para o fortalecimento das mulheres no agronegócio, como programas de microcrédito (ainda insuficientes), capacitação técnica e mentorias, promovidos tanto pelo governo quanto por organizações não governamentais. Pessoalmente, faço parte de um projeto familiar que, até um ano atrás, era gerido apenas pelos homens da família. Recentemente, eu e outras mulheres da família tivemos a oportunidade de assumir cargos de liderança. Tem sido uma experiência desafiadora, mas também enriquecedora e inspiradora.

Qual é a sua visão para o futuro do agronegócio em Angola, especialmente no que diz respeito à participação feminina?
Vejo um futuro promissor para Angola, com o agronegócio como um dos pilares da economia. Acredito que a participação feminina será cada vez mais significativa, mas, para que isso aconteça, é fundamental continuar a investir na educação, capacitação e no fortalecimento de redes de apoio.

Que conselhos você daria para mulheres que desejam iniciar uma carreira ou negócio no agronegócio em Angola?
Meu conselho é: acreditem no vosso potencial e busquem conhecimento. O agronegócio é um setor desafiador, mas também muito gratificante. É extremamente importante investir em formação técnica, networking e parcerias estratégicas. E não tenham receio de colaborar com outras mulheres, pois a união feminina é uma força poderosa para superar desafios e alcançar o sucesso.

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