Jornais impressos na era digital – Resistência, tradição e conexão emocional

Carolina Barros | Fotos Divulgação
Nos dias atuais, em que a internet e as plataformas digitais dominam a disseminação de informações com rapidez e alcance global, é comum questionar se o jornal impresso ainda tem espaço na sociedade. A resposta, embora complexa, é um enfático sim.
No Brasil, o Instituto Verificador de Comunicação (IVC) estima que entre 150 e 200 jornais impressos ainda estejam em circulação, entre veículos regionais, locais e comunitários. No Triângulo Mineiro, esse número é menor, mas a resistência persiste: cerca de 10 a 15 jornais seguem atuando ativamente, atendendo às necessidades específicas de suas comunidades.
Para entender esse fenômeno, conversamos com proprietários de jornais locais que ajudam a revelar por que o impresso segue relevante. Apesar do avanço das tecnologias digitais, o jornal físico ainda se sustenta por pilares como credibilidade, profundidade e conexão emocional com o leitor. Lídia Prata, do Jornal da Manhã de Uberaba, e Joaquim Correia, do Jornal de Patrocínio, são exemplos de quem vive esse cenário de perto. Ambos destacam que, mesmo diante das transformações do mercado, o jornal impresso continua sendo fonte confiável de informação, com papel fundamental na formação de opinião e na preservação da memória cultural.
A força do jornal impresso hoje
Lídia conta que o Jornal da Manhã, fundado em 1972, evoluiu de uma publicação ligada à igreja para se tornar uma referência regional. A integração entre o formato impresso e o digital foi essencial para sua longevidade. O lançamento de uma plataforma online ampliou o alcance do conteúdo, tornando o veículo um dos mais acessados de Minas Gerais.
Para ela, o impresso ainda é o espaço da análise, da opinião e da memória – enquanto o digital responde à velocidade da notícia.
Joaquim Correia, com 52 anos de trajetória no Jornal de Patrocínio, valoriza a tradição e o ritual de leitura mantido por seus leitores mais antigos. Com publicação semanal e cerca de 2.500 assinantes, o jornal mantém sua força como veículo impresso, sem abrir mão da presença digital. Site e redes sociais aproximam o conteúdo do público mais jovem, mostrando que o equilíbrio entre tradição e inovação é possível – e necessário.
Ambos concordam: a combinação entre impresso e digital é o caminho para a sustentabilidade do jornalismo regional, que continua exercendo um papel relevante na construção da cidadania e no fortalecimento dos vínculos com a comunidade
Credibilidade, cultura e valores
A credibilidade é um dos pilares mais fortes desses jornais. No Jornal da Manhã, a produção de livros com recortes históricos reforça o compromisso com a preservação da memória local. Já o Jornal de Patrocínio mantém sua produção com gráfica própria, garantindo autonomia, qualidade e periodicidade rigorosa. A fidelidade do público, que aguarda o jornal todas as semanas, demonstra o valor construído ao longo do tempo – e o respeito conquistado por meio do trabalho contínuo.
Nostalgia e o valor do ritual de leitura
Outro fator importante é o sentimento de nostalgia associado ao jornal impresso. Leitores mais idosos valorizam a experiência tátil de folhear as páginas, o aroma do papel e o tempo dedicado à leitura. Para esse público, o impresso vai além da informação – é também cultura, memória e identidade local.
Joaquim destaca que, mesmo com a chegada do digital, Patrocínio preserva uma forte tradição de valorizar o jornal de papel. Além da edição impressa, o jornal aposta em conteúdo online e redes sociais, ampliando seu alcance e reforçando sua presença institucional com a publicação de leis e atos oficiais. A decisão de manter uma gráfica própria foi estratégica, garantindo independência e reforçando a relação de confiança com os leitores.
Perspectivas e desafios futuros
Apesar dos desafios – como a queda na publicidade tradicional e a crescente digitalização -, há otimismo quanto à continuidade dos jornais impressos.
Os veículos locais têm investido na convergência de plataformas, em conteúdos exclusivos e na diversificação de mídias – como rádio, revistas e eventos – para fortalecer o relacionamento com seus públicos.
O Jornal da Manhã, hoje controlado por empresários locais, lançou sua versão digital ainda cedo, adaptando sua equipe para atuar tanto no impresso quanto no online. A credibilidade construída ao longo de mais de 50 anos, com base na busca pela verdade e no respeito à diversidade, consolidou sua posição como grupo de comunicação regional. A integração entre os formatos garante o alcance e a perenidade do conteúdo.
A continuidade da resistência impressa
A resistência dos jornais impressos na era digital mostra que sua importância vai além da tecnologia. Trata-se de identidade, tradição e conexão com o leitor. Mesmo com tiragens reduzidas, o impresso mantém seu papel como formador de opinião, preservador da história e agente de cultura.
Como resume Joaquim Correia: “O impresso não morreu, apenas se reinventou — e continuará fazendo parte da história enquanto houver leitores que valorizam o contato com a matéria, a reflexão e a tradição.”

