As transformações na era da ansiedade: é normal ter medo?

Daniel Labanca | Fotos Divulgação
Toda revolução traz, com suas mudanças, sentimentos de apreensão e ansiedade.
Há milhares de anos a estrutura cerebral humana se mantém praticamente a mesma. Isso significa que, fisicamente, temos quase a mesma anatomia desde a aparição do homo sapiens moderno.
Inegavelmente, nesse período, passamos por uma revolução cognitiva desenfreada, impulsionada por fatores sociais, ambientais e culturais. O funcionamento do cérebro vem se adaptando, rearranjando suas interconexões, aprimorando capacidades como a linguagem e o raciocínio. O conhecimento é uma das fontes que nutre isso tudo, aproveitando-se da neuroplasticidade com sua capacidade de se adaptar as experiências e mudanças no ambiente.
O desenvolvimento tecnológico deu um salto absurdo. E de maneira exponencial, o que significa que: transformações significativas da história que levavam até milhares de anos para acontecer, hoje ocorrem do dia para a noite, por vezes mudando o rumo do que a própria história vinha desenhando. Mas qual o sentido do paralelo que traço aqui entre essa revolução tecnológica e o desenvolvimento humano? Apesar de nossa inegável capacidade adaptativa, de formação de novas conexões sinápticas, da neurogênese e epigenética, nossas respostas emocionais ainda seguem padrões somáticos ao longo de nossas vidas, como forma de defesa, adaptação ou repetição de experiências primárias que vivemos. O que significa que é mesmo difícil para nossa mente evoluir emocionalmente na mesma velocidade em que evoluímos tecnologicamente. Assim, toda revolução traz, com suas mudanças, sentimentos de apreensão e ansiedade.
Resumindo: dá medo. E pra muita gente, o que tem sido visto nos últimos anos, meses, está dando pavor. Então, alguns têm usado seus mecanismos de defesa para negar ou desabonar o que está acontecendo, descreditando o que já é evidente e suplicando que “alguém tem que fazer alguma coisa para parar isso”. Outros tentam entender o que podem fazer com as novidades. Mas todos, juntos, comungam da pressão pela sobrevivência e a angústia do
“e o que mais virá amanhã?”.
Fisiologicamente, partes do nosso cérebro, responsáveis por emoções, como a amígdala cerebral que nos alerta o perigo, trazendo respostas como medo, pânico, paralisia ou ação imediata, podem ter permanecido as mesmas ao longo dessa evolução, mas, talvez estejam sendo bem mais utilizadas, sob uma carga emocional bem mais intensa e frequente. O setor da comunicação é um dos que mais se modificou nos últimos tempos. Quem faz comunicação já trabalha num ecossistema completamente diferente de poucos anos atrás. E quem a consome também o faz de uma maneira bem distante do que na década passada. Por isso, os profissionais destes setores que estão presenciando uma onda diária de novidades, precisam entender que a única opção para não se afogar é saber mergulhar no mar e aprender a surfar nessa onda. Pois ela não vai recuar. Então, um alento ao dia em que o receio vier é entender que estamos todos no mesmo barco. Que a mesma novidade que chega para mim é a que chega para você. Ou seja: todos continuaremos tendo oportunidades iguais de nos adaptarmos e aproveitarmos as novas ferramentas para melhorar ou até mesmo transformar aquilo que fazíamos.
Que possamos entender que nossa mente não é uma máquina infalível, que tem limites a serem respeitados, mas que aceita atualizações. Que precisamos considerar nossos sentimentos, mas, acima de tudo, fortalecê-los para que sejamos protagonistas da revolução de amanhã, e não vítimas.
Daniel Labanca é diretor de Cena, com formaçao em Comunicaçao e Psicanálise. Possui especializações em Publicidade, Psicanálise Clínica e Neuroaprendizagem.
