HUB POLÍTICA: o cenário político nacional e regional para 2023, por Hélio Mendes

“O maior desafio está em encontrar bons candidatos, um problema mundial”.

Por Hélio Mendes Fotos DivulgaçãO

Há uma grande preocupação em relação ao que o presidente Lula, ora eleito, disse durante a campanha sobre o setor do Agronegócio. Por ter acenado para o MST, cria a possibilidade de voltarem às invasões e pode comprometer a produção do setor mais importante da economia. E ganhou sem apresentar um plano de governo, nem uma equipe, já propondo, em seguida, estourar o teto de gastos e aumentar o número de ministérios. Como brasileiros, temos que torcer para dar certo, entretanto, perante tais medidas não temos como não nos preocupar. A maioria escolheu Lula, mas muitos eleitores ainda estão em dúvida se de fato a vitória aconteceu de forma limpa, em razão das atuações dos ministros do Supremo e

de parte da mídia tradicional, no período pré-eleitoral.

Fatos que necessitamos mencionar: os milhares de manifestantes em todos os estados brasileiros e a crise entre os Três Poderes, a qual deverá continuar por um bom tempo.Há possibilidade de o novo governo acertar? Sempre há. A questão é que ganhou com uma narrativa. Ao contrário do governo do presidente Bolsonaro, que implantou um capitalismo de mercado, preconizando a liberdade de produzir, reduzindo as despesas e o Estado, Lula propõe um capitalismo de Estado, o que significa aumentar as despesas. E de onde virão as receitas? Se houver a estatização de empresas, pode haver prejuízo e volta da corrupção, como aconteceu no seu governo e no de Dilma. Não tem base no Congresso e não dispõe de alternativa além de buscar apoio do Centrão – e este sempre cobra caro.

Outro item relevante a ser considerado: 2023, de acordo com as previsões, será um ano difícil para a economia global, diferente do boom das commodities durante os mandatos anteriores de Lula. É bom lembrar que o cenário mudou muito depois do seu último governo. Além de não ter a confiabilidade de antes, devido aos problemas nas gestões petistas, verá a maioria dos estados sendo governada por conservadores. O mesmo acontece no Congresso. Não será possível repetir o mensalão. E as pesquisas mostraram que a maioria dos brasileiros é conservadora e não aceitará uma pauta progressista radical. Não há como calar o povo depois das redes sociais. A velha imprensa, que sempre foi utilizada para controlar a população, está em declínio e desacreditada. Se o novo presidente não entender o recado da população que foi às ruas e à porta dos quartéis, terá problema sério para administrar e corre o risco de não terminar o mandato, caso a economia entre em estado de entropia positiva,

como aconteceu nos países vizinhos. Em nosso papel de brasileiros, não é isso que desejamos, mas há possibilidade de acontecer.

O Triângulo Mineiro, formado por três regiões: Triângulo, Alto Paranaíba e Noroeste, teve sua representação aumentada de 12 para 17 deputados. Uberlândia foi a que mais elegeu, com três federais e quatro estaduais, mas ainda não conseguiu superar a eleição de 1986, com quatro federais, três estaduais e um senador, quando contava com a metade dos eleitores de hoje. Infelizmente a cidade de Uberaba, que teve no plano nacional nesses últimos anos uma boa participação, não conseguiu eleger nenhum deputado. Araguari elegeu um estadual e um federal, Patos de Minas dois estaduais, Ituiutaba um federal, Patrocínio uma federal e um estadual, Iturama dois federais, Araxá um estadual e Paracatu um estadual.

Mas a grande vitória da região foi a reeleição, já no primeiro turno, do governador Zema, nascido em Araxá. Importante os eleitos atuarem como bancada da região, e não como sempre foi feito, direcionando-se recursos apenas para as cidades onde o representante obteve votos. Ainda não há, por parte da maioria, a visão regional, prova é que as cidades não realizam projetos em conjunto, coexistem como se fossem um arquipélago. Em um estado com 853 municípios, a integração deveria ser feita por região. Entretanto, não é o que acontece e, com isso, o planejamento regional fica apenas no campo das ideias.

Outro fato continuamente observado é que o Legislativo, nos três planos, vem perdendo qualidade, com muitos se tornando profissionais da política. A eleição é vista como um concurso público, graças a um sistema político viciado e maquiavélico, cujos partidos são verdadeiras legendas de aluguel, com regras criadas para manter seus proprietários e os que têm cargos. As oligarquias municipais têm perdido o apoio em razão da internet, que deu voz a toda a população. O mais preocupante: a democracia no mundo está em crise. As campanhas pelas eleições municipais vão começar mais cedo, porque os brasileiros acordaram para a política.

Os atuais, se quiserem ser reeleitos, deverão ter muito cuidado, pois a possibilidade de renovação no Legislativo deve aumentar. No pleito mais recente a média foi de 50%. O maior desafio está em encontrar bons candidatos, um problema mundial. Faltam boas lideranças em todos os setores. Em Uberlândia a direita é liderada pelo prefeito Odelmo, que tem feito uma boa administração, mas não poderá concorrer. É o principal líder com trânsito nacional, terá peso, elegeu uma deputada federal e três estaduais e conta com apoio do governador. A esquerda cresceu nesta eleição no plano federal, contando agora com dois deputados federais e um estadual. O ex-prefeito não foi eleito deputado, mas foi bem votado, e vão contar com o apoio do governo federal. Será uma eleição bem disputada. Mas é importante lembrar que as redes sociais mudaram a forma de se fazer política, dando o mandato, mas não o principal: credibilidade. É um grande mal, os eleitores precisam estar atentos. Como brasileiros, vamos torcer para que os eleitos atuem como nossos representantes de fato, porque não é o que tem acontecido até hoje, muito por falta de idealismo, competência e coragem.

Finalizando: o Brasil continuará sendo verde e amarelo, mas no aspecto político o País estará dividido: os “democratas” representados pela esquerda radical, liderados por Lula, e os “republicanos”, pela direita conservadora evolucionista, liderados por Bolsonaro, o que contribui para a evolução do regime democrático. Esse é o cenário do momento.

  • Hélio Mendes é Consultor de Estratégia e Gestão, professor da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra, com curso de Negociação pela University of Michigan, Gestão Estratégica pela University of Copenhagen e Fundamentos Estratégicos pela University of Virginia. latino@institutolatino.com.br – www.institutolatino.com.br

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