O que impede executivos de se tornarem líderes de verdade?

“Se não nos aperfeiçoarmos, continuaremos reproduzindo padrões reativos do ego que nos

limitam e falsamente nos protegem”

Por Greice Ciarrocchi

Fotos Divulgação

Eles mesmos, ou melhor, seus próprios egos – responde o título deste artigo. Existem várias definições de ego, mas posso definir como a parte nossa que está constantemente preocupada com valorização e status, que adota comportamentos defensivos e até mesmo agressivos quando se sente ameaçado, ou quando está sendo questionado e sob pressão.

Ego é aquela parte de nós que está sempre se perguntando: pareço competente, inteligente, poderoso e bom quando estou no comando? Sou admirado? E sempre que a resposta é sim, esta pessoa sente-se feliz e orgulhoso, e quando a resposta é não, sente-se angustiado e fará de tudo para reverter esta situação.

Na verdade, este tipo de comportamento acaba gerando uma consequência muito grave pelo fato de o líder estar voltado somente para si, com estas constantes preocupações em ser “O Cara” admirado e que sabe tudo, ficando muito autocentrado e perdendo a oportunidade de se conectar com sua equipe, seus pares e com um propósito maior.

O ego é competitivo e quer reconhecimento o tempo todo. Sabe aquele profissional que quer ser o herói? Na verdade, ele quer que todos precisem dele e o admirem, e por isso tem dificuldade em trabalhar em equipe e compartilhar conhecimento, além da necessidade de reconhecimento insaciável que o leva a atropelar os outros. A pessoa que está sendo dominada pelo seu próprio ego é movida pelo desejo de sucesso e medo do fracasso e, quando não está performando como acredita que deveria, ativa seu medo de não ser suficiente.

Estas pessoas vivem num estado de comparação com outras pessoas e tentam supervalorizar a si e desvalorizar os outros, pois enxergam seus colegas como uma ameaça. Desta forma, prioriza seu sucesso individual em detrimento do sucesso e da missão da equipe. Ela vive num estado constante de sofrimento, alerta e de iminente ameaça. Mas tudo isso vem de dentro dela, sendo ela mesma quem cria essas crenças que a fazem acreditar fielmente que precisa ser e parecer o melhor, esquecendo do mais importante na liderança: a conexão, o servir, o comprometimento com sua equipe, colegas e clientes, pois ele está tão focado em si mesmo que não dá mais espaço a ninguém.

Os hábitos de defesa do ego estão armazenados como memórias inconscientes, normalmente da nossa infância, e a única maneira de neutralizar essas reações vindas do ego é através do autoconhecimento, ou seja, investigando profundamente o que está operando por trás do medo do possível fracasso, julgamento, vergonha ou rejeição, e tornando-se consciente disso.

Um exemplo é quando somos crianças e estamos em busca constante do amor de nossos pais. Toda vez que a criança tira uma nota boa na escola, é elogiada e acaba muitas vezes aprendendo que este elogio é o amor, ou seja, ela entende que só será amada quando for bem nos estudos e passa a acreditar que o contrário também é verdadeiro, que quando errar, por exemplo, não será mais amada.

Isso acaba por desenvolver o medo excessivo de errar e fracassar, e quando esse adulto se encontra em uma situação desafiadora, muitas vezes, não se desafia e paralisa, já que associou, lá na infância, que quando falha não receberá amor. Obviamente, tudo isso é a nível inconsciente, sendo este um mecanismo de defesa do ego.

Outro exemplo está relacionado ao sentimento de rejeição que pode ter acontecido também na infância, lembrando que aqui me refiro à interpretação da criança e não necessariamente ao fato de que realmente foi rejeitada. Neste caso, por exemplo, esta sensação de rejeição continua se fazendo presente na vida adulta e muitas vezes se manifesta com a necessidade contínua de reconhecimento, aplausos, elogios, enfim, e nada disso é suficiente, e aqui muitas vezes o profissional perde o propósito de seu trabalho e da sua missão, voltando mais uma vez seu olhar e sua preocupação somente para si. Por isso, a importância do autoconhecimento e da auto-observação constante, e da coragem de olharmos para dentro. Claro que não é uma jornada confortável, pois, muitas vezes, entramos em contato com nossas maiores dores.

Entretanto, a partir do momento que percebemos o quanto podemos ser uma pessoa melhor, e como se tornar um líder conectado e consciente pode afetar positivamente as pessoas ao nosso redor, é inevitável não querer mergulhar mais e mais neste processo. Se não nos aperfeiçoarmos, continuaremos reproduzindo padrões reativos do ego que nos limitam e falsamente nos protegem.

À medida que vamos nos tornando conscientes, estas reações do ego acabam por perderem a força e param de nos dominar, e é neste momento que podemos ser verdadeiramente quem somos, tiramos as máscaras que adotamos durante a vida e realmente nos tornamos quem nascemos para ser.

Somente assim conseguimos atingir nosso pleno potencial e a partir daí podemos colocar este potencial a serviço não só de nós mesmos, mas principalmente a serviço da nossa equipe. Desta forma, nos tornamos líderes de verdade, passamos a servir, a olhar para o todo e nos tornamos espelhos para que as pessoas também tenham coragem de fazer o mesmo processo de se tornarem pessoas melhores e se conectarem com o seu potencial.

Greice Ciarrocchi, empresária e CEO da CCS Tecnologia e Serviços SA. Durante sua carreira, desenvolveu, juntamente com o Ricardo Perez, diretor comercial da empresa e seu marido, o Método NEXT – O Próximo Estágio da Liderança, projeto que busca treinar novos líderes, para que sejam conscientes e conectados com um propósito maior, transcendendo o ego e seus próprios interesses.

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