Até que ponto os lapsos de memória podem ser considerados normais?

Médica explica sobre decaimento cognitivo, dá dicas de como otimizar a memória e faz alerta sobre quando é preciso procurar especialista

Não se lembra onde colocou as chaves? Saiu e esqueceu se trancou a porta? A palavra está na ponta da língua, mas não sai? Se você já passou por algumas dessas situações, pode ser um sinal de alterações na memória e decaimento cognitivo, queixas muito comuns nos consultórios médicos atualmente. Mas afinal, até que ponto isto é considerado normal? Quando se preocupar se isto pode evoluir para alguma doença mais grave? O que fazer para melhorar estes lapsos?

A memória é a capacidade de lembrar experiências passadas e o processo de relembrar fatos, impressões, habilidades e hábitos previamente aprendidos, que de uma maneira geral, permite adaptar e sobreviver. Segundo a médica Clarissa Oliveira, a perda parcial das funções cognitivas, apontada pelos neuropsiquiatras como comprometimento cognitivo leve, é um dos problemas emergentes da saúde humana, especialmente tendo em vista o aumento da expectativa de vida.

De acordo com uma pesquisa recente, no Brasil, a taxa de incidência de decaimento cognitivo leve por 1.000 pessoas/ano foi de 13,2, enquanto no resto do mundo, a faixa relatada variou entre 8,5 e 31,9.

Quando procurar ajuda?

Dra. Clarissa Oliveira destaca que é preciso separar o que é um decaimento cognitivo leve e do que começa a comprometer. O melhor a se fazer, segundo a médica, é ter um diagnóstico para estabelecer um plano de ação para cada caso. “A redução da função de memória nem sempre é um sinal de alarme para um possível comprometimento cognitivo leve, que se manifesta com diminuição da atenção ou com alterações de outros domínios cognitivos. Em qualquer caso, o médico formulará o diagnóstico com base na consulta clínica, questionários específicos e depoimentos dos coabitantes do paciente, ou seja, da pessoa que convivem com ele. Isso porque geralmente o paciente é o último a perceber que está com perda de memória”, esclarece.

Ainda de acordo com a médica, reconhecer precocemente esses distúrbios é essencial porque embora em boa porcentagem dos casos o comprometimento cognitivo leve segue seu curso lentamente até a velhice, em outros pode anteceder uma demência. “Inúmeras evidências sugerem que um dos principais mecanismos envolvidos no desenvolvimento do comprometimento cognitivo leve e, portanto, na perda de memória, é o estresse oxidativo. Vale lembrar também que mulheres na menopausa têm decaimento cognitivo relacionado com a queda hormonal e temos recebidos muitas queixas no consultório em relação a este fator”, explica.

No caso de diagnóstico finalizado, a médica orienta o uso de nutracêuticos e suplementos como Ômega 3, vitamina D, ginkgo biloba e outros, terapia REAC, (reorganização neuropisíquica funcional), eletromedicina, que tem ajudado na melhoria significativa dos sintomas. Atividade física, alimentação saudável e sono de qualidade também são fundamentais, além de práticas que favorecem o condicionamento do padrão respiratório como yoga, pilates e meditação”, orienta.

Perda de memória x Covid 19

Mais de 200 estudos por todo mundo relatam o impacto neurológico direto ou indireto por causa da Covid 19 e entre esses sintomas está a perda da memória. Uma pesquisa feita pelo Instituto do Coração – INCOR identificou problemas de memória em 63% dos pacientes que tiveram Covid e problema de atenção em 72% dos pacientes. Um novo estudo feito por pesquisadores e cientistas da Universidade de Cambridge e do Imperial College de Londres mostra que a perda cognitiva pós-Covid é similar a 20 anos de envelhecimento. A pesquisa britânica (publicada recentemente na revista eClinical Medicine, do grupo Lancet) foi feita com milhares de voluntários e aponta que os pacientes podem ter alterações cognitivas que prejudicam a memória, o raciocínio e a capacidade de resolução de problemas.

Também foi observado que a gravidade da perda cognitiva e dos sintomas neurológicos estão ligados ao quadro mais severo durante o período de internação, com necessidade de ventilação mecânica e indicação de inflamação no organismo. Ou seja, o dano cognitivo se dá por inflamação, afetando principalmente as mitocôndrias. Quanto menos inflamação, menor é o dano e o comprometimento da função cognitiva, bem como de todas as outras funções, visto que mitocôndrias inflamadas, prejudicam desde a produção de energia e neurotransmissores até a produção de hormônios.

Deixe comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Os campos necessários são marcados com *.