Wallace Neves, o melhor sommelier do Brasil

“Esteja sempre aberto a conhecer novos vinhos, novas uvas e novos estilos”

Da Redação

Fotos Cleber Brauner

Embaixador dos Vinhos do Alentejo, Consultor em Vinho e Gastronomia, Palestrante e Wine Educator, Wallace Neves agora é também o “Melhor Sommelier do Brasil”, vencendo a competição realizada, simultaneamente, em Minas Gerais, Goiás, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Ceará, Pernambuco e São Paulo, que reuniu 19 participantes. Confira nosso bate-papo com Wallace Neves que assim define sua conquista: “eu me tornar campeão é minha forma de retribuir tudo o que Uberlândia e seu povo fazem por mim e minha família”.

O que você fazia antes e quando começou sua paixão por vinhos?

Antes de eu me tornar um sommelier, eu fiz muitas outras atividades, como trabalhar em oficina mecânica do meu pai, confesso que não tinha o menor talento para esse ofício. Também fui vendedor ambulante de empadas e trabalhei como auxiliar de carga e descarga. Foi na boleia de um caminhão que li um jornal e vi que uma escola técnica estava oferecendo cursos profissionalizantes gratuitos. Dentre as opções, procurei área ligada a indústria. Porém, não havia mais vagas. Decidi me inscrever para hotelaria, somente para não perder a viagem. Foi amor à primeira vista. Depois de formado comecei a trabalhar como garçom.

O que, ou quem, te inspirou a ser sommelier?

Durante o curso em hotelaria, um dos professores nos explicou sobre a hierarquia dentro do restaurante, e dentre as funções, ele falou um pouco sobre a função do sommelier. Ali, já havia despertado uma certa curiosidade em buscar mais informações sobre o tema. Minha mãe trabalhava para uma família como secretária do lar, eu pedia para que ela me trouxesse algumas revistas sobre gastronomia. E em uma dessas revistas tinha uma matéria sobre um renomado sommelier. Ele explicava com detalhes sobre a profissão e sugeria harmonizações de vinhos com algumas receitas de pratos da revista. Ele foi minha inspiração. Como iniciei nos restaurantes na função de garçom, logo juntei dinheiro e fui procurar a Associação Brasileira de Sommeliers – Seção Rio de Janeiro. Me formei e logo comecei a exercer esse apaixonante ofício.

Você é sommelier há quanto tempo e por quais países já passou?

Sou sommelier há 14 anos. E essa profissão me possibilitou conhecer países como França, Itália, Portugal, Espanha, Chile, Argentina, Uruguai e muitas regiões vinícolas no Brasil.

Quais limitações e dificuldades você enfrentou?

Enfrentei muitas situações complicadas. Mas aquela que mais mexeu comigo foi o preconceito. Quando eu trabalhei uma temporada na França, o fato de eu ser brasileiro, ser do subúrbio do Rio de Janeiro e ter a pele morena, alguns colegas me apelidaram de Zé Pequeno, que era um marginal imortalizado no filme Cidade de Deus. No início me abalou um pouco. Mas passado alguns dias, esse carioca auxiliar de oficina, vendedor de empada e garçom logo conquistou seu espaço e passou a ensinar os franceses que trabalhavam comigo sobre a arte de trabalhar com o vinho e encantar os clientes.

É a primeira vez que participa de “O Melhor Sommelier do Brasil?”

Não. Essa foi a minha quarta tentativa. Já havia conquistado alguns prêmios: Melhor Sommelier do Rio de Janeiro, Sommelier do Ano e Melhor Sommelier do Brasil em Vinhos do Alentejo. Mas faltava o prêmio de Melhor Sommelier do Brasil que graças a Deus este ano consegui.

Como foi sua preparação? Você pensou em desistir ou teve medo?

Essa competição é dividida em duas etapas: Prova teórica – que é eliminatória e somente as três maiores notas do Brasil se classificam para a final. Prova prática – que consiste em degustação de líquidos às cegas, serviço de espumante, harmonização de vinhos com pratos, decantação de vinho tinto e correção de uma carta de vinhos. Para primeira etapa tive

que estudar muito. Dormia quatro horas por noite, estudava de cinco a seis horas por dia, dividindo em turnos durante três meses. Estudei sobre os países clássicos como França, Portugal, Itália, etc. Até países e regiões poucas exploradas em nosso país. Índia, Nepal, Japão, China, Croácia, Eslovênia, Grécia. Além de estudar sobre outras bebidas: chá, café, cognac, armagnac, cachaça e até sobre charutos. Porém, devido ser minha quarta tentativa, tive medo de me frustrar novamente, minha última participação em competição foi em 2018, onde tive a pior nota do Brasil e consequentemente a última colocação. Compartilhei esse medo com a minha esposa e ela me deu todo o apoio para seguir em frente. Me disse para eu me divertir nessa prova, pois não precisava provar nada a ninguém. Foi o que fiz. Depois de eu me classificar com a terceira maior nota, meu foco mudou para a preparação para a final, que é a prática. Para essa etapa tive que degustar muitos vinhos e outras bebidas (sempre usando uma cuspideira) e procurei um restaurante da cidade para praticar o serviço no dia a dia. Onde recebia os clientes, me apresentava, recomendava um vinho, fazia o serviço e minhas sugestões de pratos que melhor combinavam com o vinho proposto. Essa minha estratégia deu muito certo.

Como superou esse desafio e quantos competidores participaram?

Foram no total 19 participantes. A etapa teórica ocorreu de forma simultânea nos estados de Minas Geras, Goiás, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Ceará, Pernambuco e São Paulo.

Qual o seu sentimento em participar e ganhar?

Sentimento de gratidão e de renovo. Quando decidi vir para Uberlândia muitos me disseram que eu ficaria fora do mercado. Haviam decretado o fim da minha carreira. E por um curto momento eu acreditei nisso. Mas fui tão bem recebido aqui nessa cidade, minha família é tão amada aqui. Eu me tornar campeão é a minha forma de retribuir tudo o que Uberlândia e seu

povo fazem por mim e minha família.

O que vem pela frente? Quais as próximas etapas para ser o melhor do mundo?

Agora é continuar minha preparação e representar o Brasil no Panamericano que ocorrerá no México e depois o Mundial.

Quais são seus planos para o futuro?

Meu objetivo é ser o primeiro sommelier brasileiro a ganhar o Melhor Sommelier das Américas. E pretendo abrir um Wine Bar, onde terei vinhos de várias nacionalidades com grande foco em vinhos brasileiros, principalmente vinhos que são produzidos em nosso Estado, dando um grande foco em vinhos da nossa região. Tenho provado coisas surpreendentes.

Que mensagem você deixa para quem quer entrar no mundo do vinho, quer seja para apreciar ou competir?

Para quem deseja ser um apreciador, meu conselho é: “esteja sempre aberto a conhecer novos vinhos, novas uvas e novos estilos”. O mundo do vinho é muito vasto para ficarmos presos a um único produtor, um único país produtor ou uma única variedade de uva. Uberlândia está se tornando um grande celeiro de boas lojas com ótimas opções de vinhos para todos os gostos. Para quem busca competir, primeiro é necessário buscar uma escola de referência e se formar sommelier. Depois disso é preciso exercer a profissão em uma loja, importadora, restaurantes, hotéis, etc, por um período mínimo de um ano. Depois estude bastante, assista as competições nacionais e internacionais, deguste bastante vinhos e boa sorte. Minha mãe sempre me ensinou a me dedicar e ser o melhor em tudo aquilo que eu fizesse. Para quem quer se tornar um sommelier profissional dê o seu melhor a cada dia. Esse é o meu conselho.

Deixe comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Os campos necessários são marcados com *.