A força e a diversidade dos eventos culturais para a economia e a valorização da produção artística


Alitéia Milagre | Fotos Divulgação
Uberlândia promove agenda diversificada que enriquece cenário artístico e cultural da cidade
Com uma programação cultural que mescla a valorização de talentos locais e a presença de artistas consagrados no cenário nacional, Uberlândia promove uma agenda diversificada de eventos que enriquecem o cenário artístico e cultural da cidade durante o ano todo. Espetáculos teatrais, shows, exposições, festivais e conferências são iniciativas que dinamizam a cidade, movimentam o cenário cultural, impulsionam a economia criativa e valorizam a produção artística.
Em nível nacional, o impacto econômico no setor de eventos é bastante significativo. Segundo a Abrape, este setor representa 3,8% do PIB brasileiro, com um faturamento anual de R$ 291,1 bilhões. A cadeia setorial envolve 6,6 milhões de pessoas, gerando uma massa salarial de R$ 71 bilhões e 3.205.550 empregos, o que corresponde a 6,6% dos postos de trabalho no Brasil.
A secretária de Cultura e Turismo, Mônica Debs, destaca que a cultura desempenha um papel estratégico na economia, gerando impactos que vão muito além dos artistas e produtores culturais. Segundo Debs, a cultura movimenta toda uma cadeia econômica, impulsionando setores como turismo, comércio, serviços e gastronomia, contribuindo para o desenvolvimento integrado da cidade. “Os setores de alimento e bebida, de bens e serviços, hotelaria e de insumos, por exemplo, também se beneficiam. Portanto, investir em cultura é proporcionar oportunidades, que geram emprego e renda em diversas esferas”, diz.
A secretária salienta ainda que gestão Odelmo Leão deu espaço para que a Secretaria de Cultura desenvolvesse políticas públicas que apoiassem e estimulassem a produção cultural na cidade. “Esse tem sido o compromisso desses últimos oito anos. Apenas em 2024, contemplamos 27 editais, promovendo concessão de bolsas, selecionando propostas de atividades, premiações e contratações, entre outros, além das cessões de espaço para a realização de eventos diversos por toda a cidade. Além disso, a Prefeitura de Uberlândia viabilizou, seja por investimento direto, seja por apoio, mais de 150 ações, incluindo shows, oficinas, espetáculos, cineclubes, lançamento de livro, Mercado de Pulgas, Feira de Cultura, Carnaval, entre outros”, destaca.
Meire Massa, coordenadora de eventos da CDL Uberlândia, concorda com a secretária. Ela afirma que entre outros motivos, os eventos são cruciais para a geração de novos negócios e empregos, prospecção de clientes e criação de parcerias. “A CDL Uberlândia, por exemplo, recebe anualmente cerca de 300 eventos variados, incluindo congressos, convenções, feiras e apresentações, eventos culturais, atraindo milhares de pessoas. Sem dúvida, movimenta toda a cadeia do setor, atrai pessoas de fora para conhecer nossa cidade e usufruir do que ela oferece, movimentando a economia em geral”, afirma.
Produção cultural
Para se ter ideia da grandeza do setor, no que tange a cultura de artes cênicas, o jornalista, produtor cultural, idealizador e coordenador do projeto Uberlândia na Rota das Culturas, Carlos Guimarães, explica que a programação é de suma importância para a fidelização de público. “São muitos espectadores comparecendo em todos os eventos. É surpreendente, e não deveria ser, que tenhamos levado, apenas em 2024, quase 30 mil pessoas aos teatros, que alguns espetáculos da nossa programação tiveram uma ou duas sessões extras. O que podemos afirmar é que não foi nada fácil para isso acontecer”, esclarece.
Para trazer as peças teatrais de qualidade para a cidade, Carlos conta que antes assiste em outros municípios e como já tem relacionamento com artistas e produtores, sobretudo do eixo Rio-São Paulo, também coleta as opiniões dos colegas. “Os eixos temáticos de alguns espetáculos também são pertinentes no momento da escolha, assim como as premiações que a montagem conquista após a estreia. Tudo isso nos leva a um estado de observação. Daí, somamos todos estes elementos e decidimos o que seria viável para Uberlândia, obviamente pulando para outra etapa, que são os custos de cada um, os patrocínios externos que eventualmente o espetáculo tenha, algo tipo um estudo de viabilidade para que a negociação possa ser efetivada”.
Arte mais do que entretenimento
Outra observação de Guimarães é a visibilidade de artistas que não são famosos. “Mesmo os artistas famosos tendo mais apelo de consumo, parecem não ser mais a prioridade do público. O espectador está mais antenado com o conteúdo do espetáculo. Já chegamos a ter recordes de público com montagens que não continham artistas de telenovelas, como, entre outros, o musical Suassuna o “Auto do Reino do Sol”, com o grupo carioca “A Barca dos Corações Partidos”.
Em um contexto de grandes transformações, alguns encaram a cultura apenas como entretenimento ou mero passatempo. Para Carlos, é preciso ver a cultura em universos que que conversem sobre temas como racismo, pessoas com deficiência, a misoginia, a homossexualidade, entre outros assuntos pertinentes ao mundo contemporâneo. “A vida real pode ser colocada em cena, seja como drama ou comédia, de forma potente e transformadora. Mais do que a política partidária, a arte nos salva. E qualquer consumo, de qualquer mercado, deve passar por essa premissa, de identificação do consumidor com o produto que ele está consumindo”, avalia.
Recorde de espetáculos

O produtor cultural Carlos Guimarães conta que em 2023, Uberlândia recebeu em torno de nove espetáculos. “Neste ano, não poupamos esforços. Foram 18 espetáculos como As Meninas Velhas, com Lucinha Lins, Bárbara Bruno, Nádia Nardim e Sônia de Paula; o Eu de Você, com Denise Fraga, Bárbara, com Marisa Orth; A Vedete do Brasil, com Suely Franco e elenco; A Última Sessão de Freud, com Odilon Wagner e Marcello Airoldi; Meu Corpo Está Aqui, com elenco de PcDs (Pessoas com Deificiência), entre outros”.
Além destes espetáculos, Carlos assinou a produção local de mais quatro espetáculos: um com a Cia Deborah Colker de Dança, outro com o comediante Marco Veras, outro com o também comediante e ilusionista Gabriel Louchard e um incrível Guimarães Rosa de Giuspeppe Oristânio.
Outro desdobramento neste ano, foram três exposições com fotos de Beto Oliveira, mostrando parte dos espetáculos produzidos ao longo de três décadas. Paralelamente, houve a formatação de um projeto para uma jovem cantora lírica brasileira, com participações especiais de Wagner Tiso, Thiago Arancam e orquestras e a apresentação em Brasília (teatro da Funarte), São Paulo (Teatro J Safra) e Rio de Janeiro (sala Cecília Meirelles). “Para 2025, temos uma programação ainda mais impactante, mas dependemos das captações de patrocínios e negociações com cada uma delas. Adianto que será absolutamente incrível, tal como foi neste ano e como tem sido ao longo de todos os anos”, ressalta Carlos Guimarães.
Cultura em forma de graffiti

O graffiti desempenha um papel ímpar, especialmente em contextos marcados por estigmas ou preconceitos. A técnica, antes amplamente considerada como desprovido de valor estético ou artístico, hoje ganha espaço como expressão legítima e tão significativa que muitas empresas passaram a investir na arte de fachada para seus próprios estabelecimentos usando o talento de artistas.
Artista com 25 anos de trajetória, Dequete é um dos principais nomes do graffiti em Uberlândia, transformando as ruas da cidade em telas que refletem a vida em suas múltiplas facetas. Para ele, o graffiti vai além de uma expressão artística, é um estilo de vida que utiliza a cidade como espaço de transformação. “É uma poderosa ferramenta de valorização estética dos espaços urbanos, pois ressignifica ambientes, transforma paredes em obras de arte e traz cores, vida e alegria para o cotidiano. Mais do que decorar, ele humaniza os espaços, sensibiliza e toca as pessoas. Assim como toda forma de arte, o graffiti estabelece uma comunicação direta com o público, criando uma conexão emocional que vai além da estética”, afirma.
Juntamente com a produtora cultural, Preta em Flor, Dequete fundou o Instituto Aljava, com foco em ações pedagógicas e educacionais que utilizam o hip-hop como ferramenta nas escolas. “A maior conquista seria ter nossa própria sede. Seria um sonho criar um espaço onde pudéssemos dar aulas para a juventude, receber intercâmbios de artistas de outros lugares e, principalmente, contribuir para que Uberlândia se torne uma referência nacional e internacional em arte urbana”, conclui Dequete.
