Geração prateada – A revolução da longevidade

Inicio afirmando que o envelhecimento é um fenômeno mundial – é um processo inevitável, dinâmico, irreversível e imprevisível. Acontece em todo o planeta, entretanto, as velhices são diferentes, múltiplas. São únicas para cada pessoa.

No Brasil, essa realidade também se impõe. Somos um país que envelhece a passos largos, sem que esteja preparado para receber esse crescente contingente populacional. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, apontam que a Pirâmide Etária do Brasil já está se invertendo. As pessoas idosas representam 15,8% de toda a população, superando os jovens entre15 e 24 anos (14,7%). Em poucas décadas, o IBGE projeta que as pessoas de 60+ passarão a compor a maior fatia populacional, na Pirâmide Etária.

Diante desse cenário, é cada vez mais necessário buscar pelo conhecimento acerca do processo de envelhecimento saudável e de qualidade; tendo em vista a longevidade que se estende cada vez mais. Devemos nos preparar para conseguirmos viver um “novo tempo”, com mais energia, autonomia, independência e muita saúde.

Sendo assim, em meio a tantas desigualdades socioculturais no Brasil, discutir sobre o paradigma a “nova velhice” é de fundamental importância, já que uma “nova revolução” foi instalada e continuará a transformar o cotidiano de todos nós.
O Brasil ainda pensa como um país jovem. Fomos um dia. Isso, provavelmente, se dá por seu espírito alegre, criativo, acolhedor; tudo isso, carregado de informalidade e simpatia.

Em duas décadas o Brasil será o terceiro país mais velho entre as nações em desenvolvimento e isso, certamente, mudará a forma de se pensar e agir, como uma sociedade que envelhece aceleradamente.
Para nos situarmos no contexto da revolução prateada, a priori, é oportuno falar sobre o termo, com a intenção de clarear o conceito e sobre as muitas possibilidades de agir. Podemos dizer que essa terminologia se refere a um período de transformações significativas na economia, na sociedade e nas tecnologias impulsionadas pelo público 60+. É um novo modelo social no qual o longevo é protagonista em suas ações e contribuições para as mais diversas áreas.

Dessa forma, a economia foi a primeira a mudar em alguns países, como a China onde vivem mais de 280 milhões de pessoas com mais de 60 anos. Encontramos por lá a economia prateada transformando jardins de infância em locais apropriados para a o público sênior, oferecendo-lhes aulas de dança, canto e artes, ou ainda, mudando o perfil do local para Centros de Saúde.

As empresas de tecnologia estão atentas a esse novo mercado da longevidade. Estão crescendo exponencialmente e impulsionam os jovens preocupados com saúde e longevidade. Muitas startups estão sendo criadas e implementadas no sentido de abarcar esse “novo mercado”.

Tecnologias como o Apple Watch, por exemplo, que monitoram a saúde das pessoas, são cobiçadas seja qual for a geração. A acessibilidade em estabelecimentos públicos e hotéis está sendo aprimorada, para atender com qualidade e eficácia, cada vez mais, seus usuários, em especial, as pessoas idosas, com deficiência ou não.

A pouco tempo, a Nestlé anunciou a interrupção de comida infantil, na Irlanda, e passou a investir em suplementos e leites especiais, para impedir a perda muscular e óssea (sarcopenia e osteoporose), fato que ocorre com frequência entre as pessoas idosas. Da mesma forma, a empresa francesa Danone também está apostando em alimentos para os mais velhos.

Acredito que o mercado está se moldando; se adaptando à “nova realidade”; para atender a “nova longevidade”, que acontece de forma frenética.

A ideia veiculada entre as empresas, a sociedade e as necessidades de um “novo público” é garantir mais vida aos anos a mais, conquistados nos últimos séculos. E, já sabemos – não são poucos. Enquanto, não se falar abertamente sobre o envelhecimento, mais preconceitos e dificuldades teremos para entender e aceitar o processo e seus sujeitos.

Será preciso mudar entendimentos e convicções sociais e, com isso, mudar o modelo mental que, cada vez mais, perpetua na sociedade, em geral. Tenho como convicção que, se não mudarmos a cultura, não conseguiremos alavancar a “nova longevidade”, já vivenciada no país. Os centenários já nasceram.

Solidão e decadência são representadas nas imagens propagadas das pessoas idosas, sejam nas mídias sociais, acessórios, joias, roupas, revistas, jornais, etc. Essa realidade precisa ser alterada com brevidade, pois, caso contrário, esse público poderá se rebelar e causar um descontentamento geral.

Ao longo de toda a minha vida trabalhando com pessoas idosas e seus interlocutores, notoriamente, percebia que os relacionamentos intergeracionais eram salutares e profícuos, em especial, quando se fala em responsabilidade, pontualidade, honestidade, fidelidade, resiliência, cumplicidade e parceria.

Também tenho como argumentação que só se constroem políticas de inclusão quando as pessoas a quem vamos servir estão na mesma mesa, opinando e/ou tomando decisões assertivas.

A cada “novo tempo” há a necessidade de mudarmos o modelo mental para conseguirmos impulsionar uma “nova velhice”, uma “nova narrativa” e uma “nova longevidade; em um contexto permeado de preconceitos e padrões rígidos como: idadismo | etarismo, exclusão social e falta de conhecimento sobre o processo de envelhecimento.

As propostas de melhoria para o cenário atual do envelhecimento no Brasil carecem de políticas públicas robustas e, acima de tudo, mudar a maneira como enxergamos o papel da pessoa idosa na sociedade.
Enfim, seja qual for o ramo de atuação, é fundamental considerarmos a geração prateada como foco – dos carros às viagens, das casas aos estabelecimentos públicos acessíveis, da educação continuada ao lazer, da saúde preventiva à saúde curativa – tudo isso com prioridade, conforto e qualidade.

Todos que trabalham com serviços precisam estar atentos a este público, olhar com uma lupa para as preferências desses clientes. É chegada a hora de agirmos para garantir que todos os brasileiros possam envelhecer bem, com direito a uma cidadania plena, na qual as gerações possam comungar de um mesmo interesse como projeto futuro.

Profa. Dra. Geni de Araújo Costa é Professora Titular da Universidade Federal de Uberlândia (UFU); Pós-graduada (mestrado e doutorado) em Educação e Longevidade – PUC/SP; Estudiosa sobre o processo de envelhecimento, bem-estar e qualidade de vida.

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