Aumento do diesel encarece frete e pode subir preços dos alimentos

O Brasil caminha para mais uma safra recorde de soja, o que, apesar de positivo, também gera um gargalo logístico. Com a maior parte dos caminhões ocupada pelo transporte da soja, outras colheitas, como a do milho, enfrentam dificuldades. Como resultado, o preço do frete aumentou significativamente e isso reflete no custo dos alimentos.

Na semana passada, a empresa Padrão Transportes de Cargas e Logística anunciou a suspensão temporária da entrega de 500 toneladas de milho para a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), alegando falta de caminhões disponíveis e o alto custo do frete. A empresa venceu uma licitação para transportar 10 mil toneladas, mas solicitou um prazo adicional de 45 dias para executar o serviço.

Em estados como Mato Grosso, mais de dois terços da safra de soja já foram colhidos, resultando em longas filas de caminhões em pontos estratégicos de transbordo, como Rondonópolis (MT) e Itaituba (PA). O cenário é agravado pela recente alta do diesel, que encarece ainda mais o frete.

De acordo com Paulo Bertolini, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), o reajuste do diesel já elevou os custos de transporte entre 30% e 40% em relação ao ano passado. Ele também destaca a falta de infraestrutura de armazenamento de grãos nas propriedades rurais, o que obriga os produtores a utilizarem caminhões como alternativa para estoque, encarecendo ainda mais a logística.

Outro entrave é a preferência dos caminhoneiros por trajetos mais curtos, de até 300 km, reduzindo a oferta para percursos mais longos e agravando o problema de distribuição. Além disso, muitos motoristas enfrentam dificuldades com infraestrutura inadequada e baixa segurança nas estradas, o que impacta a disponibilidade de profissionais no setor.

A falta de caminhoneiros também preocupa. Dados da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) indicam que o Brasil tem aproximadamente 3,165 milhões de caminhões em circulação, mas o setor enfrenta dificuldades para repor a mão de obra. Uma pesquisa da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística) revelou que 93% das empresas do setor relatam problemas para contratar motoristas. O envelhecimento da força de trabalho e as condições precárias de trabalho são fatores que contribuem para o quadro.

Reflexos na inflação

O impacto do aumento do diesel não se limita ao transporte. A Petrobras anunciou um reajuste de 6,29% no preço do diesel para distribuidores, elevando o preço médio para R$ 3,72 por litro. Além disso, o reajuste na alíquota do ICMS pode aumentar o preço final em cerca de R$ 0,25 por litro, segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom).

Economistas alertam para o impacto indireto do diesel na inflação. Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Rena, explica que o aumento do frete repercute em toda a cadeia produtiva e logística, pressionando os preços dos alimentos. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que os alimentos têm sido um dos principais fatores para a alta inflacionária nos últimos meses.

O IPCA-15 de janeiro registrou aumento de 0,11%, com alimentos e bebidas puxando a alta em 1,06%. Fábio Romão, consultor da LCA, afirma que o impacto do diesel também se reflete nos preços de serviços e energia, já que o combustível é essencial para o abastecimento de usinas termelétricas.

Diante desse cenário, especialistas apontam que a solução passa por investimentos em infraestrutura e logística, além de políticas que incentivem o setor de transportes e armazenamento de grãos. Enquanto isso, a população sente no bolso os reflexos da crise logística e da inflação persistente.

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