O que esperar da bolsa de valores brasileira em 2025? Cenário se apresenta desafiador

Depois de um ano desafiador, o Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, finalizou 2024 com uma queda de 10,36%. Com 120.283 pontos, o índice se aproximou do seu menor patamar nos últimos 12 meses. Essa foi a pior performance desde 2021, quando o índice havia caído 11,93%. Apenas em dezembro de 2024, a retração foi de 4,28%.
Diversos fatores influenciaram esse resultado, incluindo as eleições nos Estados Unidos, a redução das taxas de juros pelo FED e pelo Banco Central, a recuperação da economia chinesa e, principalmente, a questão do Risco Fiscal, que se destacou ao longo do ano. Com uma confluência de eventos adversos, o dólar comercial terminou o ano com uma valorização de 27,35% em relação ao real, alcançando a marca de R$ 6,18. O real foi uma das moedas que mais se desvalorizaram globalmente. Além disso, a previsão do Boletim Focus em abril de 2024 era de que a Taxa Selic chegasse a 9,50%, mas a realidade foi bem diferente, com a Selic terminando o ano em 12,25%.
Diante de um ano desastroso, que frustrou as expectativas de quase todos os investidores que estavam otimistas, o cenário para 2025 se apresenta desafiador. De acordo com alguns analistas do mercado financeiro, o ano ainda apresentará desafios significativos, influenciados principalmente por alguns elementos:
- risco fiscal
- recuperação da economia da China
- inflação e taxa Selic
- reduções nas taxas de juros nos Estados Unidos
- decisões do novo governo Trump.
No contexto interno, o Brasil continua a vivenciar um quadro de atividade econômica robusta, com os analistas prevendo um crescimento de 2,01% para o Produto Interno Bruto neste ano. Contudo, em virtude da inflação em alta, as previsões para 2025 indicaram um aumento na taxa de inflação, que passou de 5,60% para 5,65%, marcando a décima nona elevação consecutiva. Assim, a inflação permanece acima e a cada vez mais distante do teto estabelecido pela meta do Banco Central. Em janeiro, o Banco Central elevou a Taxa Selic para 13,25% ao ano, e também sinalizou um novo aumento da taxa para março. Para o final de 2025, o mercado estima uma Selic em 15%.
Apesar de um panorama de incertezas, a XP Investimentos manteve sua projeção de que o principal índice da bolsa brasileira, o Ibovespa, fechará 2025 na casa dos 145 mil pontos, impulsionado por um forte desempenho em janeiro. Por outro lado, o BB-BI estimou que o Ibovespa pode ultrapassar os 150 mil pontos neste ano. Na reportagem do Valor, publicada em 20 de fevereiro, o Santander fez uma previsão para o Ibovespa, estimando que ele pode chegar a 185 mil pontos. Essa projeção acontece em um contexto de antecipação das discussões sobre as eleições. De acordo com as análises do banco, essa expectativa se fundamenta na possibilidade de uma mudança de poder que favoreça uma administração mais pro-negócios.
Um ano repleto de desafios ou não, o que se espera para 2025 é um leque variado de possibilidades. Em janeiro, por exemplo, o mercado apresentou um desempenho surpreendentemente positivo, superando as previsões de bancos e corretoras. O Ibovespa registrou uma alta de 4,86% somente em janeiro, enquanto o dólar se desvalorizou em 5,85% em relação ao real, marcando a maior queda desde março de 2022.
De acordo com especialistas, as ações da Bolsa brasileira ainda estão com preços atrativos. Alguns indicadores financeiros, como o índice preço sobre lucro (P/L) de várias empresas do Ibovespa, encontram-se abaixo da média histórica. Isso reforça a ideia de que muitos ativos estão sendo negociados a preços atrativos. No entanto, imagino que 2025 deverá ser um ano em que a preservação do capital e a obtenção de dividendos se tornem mais importantes do que meramente buscar ganhos de capital. Vamos ficar atentos ao que os próximos eventos nos reservam.
Tarcísio Campanholo é CEO da Minas Capital Investimentos, professor e especialista em mercado financeiro.
