Sucessão sem confusão, eis a questão

Empresas, famílias e proprietários rurais precisam ver isso

Adalberto Deluca | Fotos Divulgação

Caro leitor, vamos direto ao ponto: a sucessão é inevitável. Você pode tentar fugir, se esconder, deixar para depois, mas cedo ou tarde, alguém vai precisar pegar o bastão. Seja na sua pequena fábrica familiar de parafusos, na imponente corporação multinacional ou naquela fazendinha charmosa no interior onde você jura que “tudo sempre deu certo até hoje”. Mas será que dá mesmo? Vejamos esse romance, ou esse enredo de terror e suspense, em 8 capítulos.
Capítulo 1: Família, a bênção (e a preocupação) empresarial
Quando se trata de negócios familiares, o cenário é digno de novela mexicana: parentes aparecem do nada, cunhados se autoproclamam “experts” e filhos saem das fraldas direto para a cadeira de presidente executivo. Afinal, qual poderia ser o problema, não é mesmo? “Meu filho é um gênio! Já tem diploma de Harvard
– online e impresso em casa!” Pois é, nepotismo nunca foi tão elegante. E tem o casamento de filhos: quem vem lá? Um novato ou uma debutante não muito bem-vindos ou uma nova força de trabalho? Ou mais confusão?
A chegada de cônjuges ou filhos ao negócio geralmente é acompanhada daquela frase clássica: “Ele vai aprender no dia a dia!”. Entretanto, o aprendizado diário costuma acontecer às custas de erros épicos e prejuízos memoráveis. Quem nunca viu um genro decidido a “modernizar” a empresa e acabar transformando-a numa startup falida antes do Natal?
Capítulo 2: Adeus, amor (e patrimônio também)
Falando em família, temos a enigmática (e inevitável) possibilidade das separações conjugais. Sim, quando o amor acaba, nem sempre o patrimônio empresarial sobrevive intacto. Entre rendas e abotoaduras muitas empresas sólidas como rocha já viraram castelos de areia na hora de dividir bens. Então fica o trocadilho sem graça: Oi, meu bem! Ai meus bens…!
Um empresário apaixonado é aquele que, após assinar os papéis do divórcio, descobre que agora é sócio do ex-cônjuge. Nada como uma boa reunião de planejamento estratégico com quem
você mal consegue olhar no rosto sem ranger os dentes (já viu o preço de uma restauração de qualidade?).
Capítulo 3: A cadeira vazia (e o desespero corporativo)
E se falamos de divórcios, como não mencionar outra separação dolorosa: a saída inesperada de executivos-chave. Aqueles que deixam a empresa porque receberam uma proposta melhor ou simplesmente “cansaram de tanta emoção”. E nesse momento, descobrimos que o brilhante planejamento de sucessão era apenas um PowerPoint bonito guardado em uma gaveta esquecida.
É aí que surge a famosa “síndrome da cadeira vazia”. De repente, ninguém sabe exatamente o que o ex-diretor fazia, mas todos juram que ele faz falta. O caos reina, e a empresa, que parecia tão organizada, começa a se perguntar se não deveria ter realmente ouvido aquele consultor chato que insistia no planejamento sucessório.
Capítulo 4: Fusões, aquisições e confusões
Quando falamos de sucessão em fusões e aquisições, o cenário fica ainda mais emocionante. Duas culturas diferentes precisam conviver sob o mesmo teto, e todo mundo jura que vai dar certo. Claro, e o Papai Noel vai entregar os presentes pessoalmente esse ano.
Na prática, as fusões costumam ter o efeito “Game of Thrones” no mundo corporativo. Alianças são feitas, cabeças rolam, e a cadeira mais importante vira motivo de disputa. E, convenhamos, todos sabem que “parcerias estratégicas” frequentemente significam: “Vamos ver quem sobrevive mais tempo nessa selva”.
Capítulo 5: E no campo? A vida simples (e complicada) da sucessão rural
Nem só de terras, sementes, chuva e fé vive o agronegócio. Sucessão por ali é uma ópera bufa sem tenores ou barítonos! Tão romântica quanto um pôr do sol no campo e tão pacífica quanto uma corrida de tratores sem freios. Não são raros os casos em que filhos assumem propriedades rurais e as transformam de produtivos impérios agrícolas em monumentos de nostalgia, mantendo práticas agrícolas do século XIX porque “sempre deu certo assim”.

A entrada dos filhos no comando pode revitalizar o negócio, trazendo inovação tecnológica e gestão moderna, ou pode significar o início do fim – especialmente quando os filhos preferem a vida urbana e acabam gerindo a fazenda por WhatsApp entre uma foto e outra no Instagram. Ou mais ainda, trazem os conceitos dos bancos de suas nobres faculdades e colocam tudo de cabeça para baixo, no fim uma queda sem paraquedas.
Separações ou falecimentos no meio rural tornam-se ainda mais dramáticos. As propriedades, antes pacíficas, tornam-se cenários de disputas judiciais intermináveis. Quem herda o quê? Surgem até os defensores ‘urbanóides’ da famosa “terra do vô”, que não pode ser dividida “porque o vô nunca quis assim”. E sem que nunca tais arautos tenham pisado lá, basta ver suas pick-ups de luxo sem poeira e seus sapatos com alergia a estrume de gado.
Capítulo 6: Sucessão na bolsa – ações, reações e quedas espetaculares
Imagine uma empresa sólida, ações valorizadas e investidores felizes. Agora acrescente uma sucessão não planejada e veja a mágica acontecer: ações despencando mais rápido que jogador de futebol simulando falta. O mercado detesta incertezas, e nada gera mais incerteza do que a sucessão inesperada ou desastrada.
Empresas que enfrentam desafios sucessórios sem transparência ou planejamento adequado têm suas ações castigadas, investidores fogem como ratos de um navio afundando, e
o resultado pode ser devastador. Para evitar essas quedas dramáticas, algumas medidas são essenciais: comunicação clara
com investidores, planos de contingência bem estruturados – nem continência ou mesmo incontinência, se é que me entende – e a criação antecipada de lideranças sólidas para garantir estabilidade e confiança. Caso contrário, sua empresa poderá entrar para a história – como um daqueles casos clássicos ensinados nas aulas de economia sobre “o que jamais fazer na hora da sucessão”.

Capítulo 7: E aquela vaga estratégica, alguém preparou o sucessor?
Nem toda sucessão precisa ser uma tragédia grega, mas frequentemente se torna uma justamente por falta de preparo adequado do sucessor. Nada mais clássico que um gestor assumir um cargo-chave simplesmente porque estava disponível ou “parecia gente boa” ou “estava na fila há um bom tempo”. Sem treinamento prévio, esse sucessor improvisado costuma gerenciar com a destreza de um elefante numa loja de cristais. E se tem algo frágil como um cristal é a estratégia corporativa em mãos de “Eduardo Mãos de Tesoura”.


A solução é simples, mas frequentemente ignorada: investir na formação do sucessor muito antes que seja necessário. Treinamentos específicos, mentorias e acompanhamento próximo por tutores podem transformar um futuro novo líder em um verdadeiro maestro empresarial. Caso contrário, você terá muitos bons motivos para iniciar aquela clássica busca por culpados. Tão simples como as agulhas do palheiro ou fazer tranças na vovó careca.
Capítulo final: A música sempre para e a cadeira sempre é cobiçada
O resumo dessa ópera é simples: a sucessão não pode ser evitada, mas pode (e deve) ser planejada. Tenha em mente, é melhor enfrentar pequenos desconfortos agora do que grandes desastres depois, podendo ser traduzido como é melhor ficar vermelho agora que ficar amarelo o resto da vida. Lembrando que não existe balanço que finalize no amarelo. Caso contrário, lembre-se: sua história familiar ou empresarial pode virar tema de palestra sobre “o que não fazer na hora de passar o bastão”. E acredite, palestras assim costumam ser bem divertidas – para quem assiste.
Agora vá lá, prepare-se, e não deixe sua cadeira virar palco de um espetáculo de tragicomédia empresarial. Entre ou saia, só não esqueça de deixar a porta aberta.

Até a próxima!

Adalberto Deluca é consultor de empresas.

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